Já lhe chamam a “estranha onda grega”, uma etiqueta para classificar o despertar do cinema grego depois de vários anos em coma. A linguagem é áspera, crua e reflete o mal-estar de uma sociedade acossada pela crise. São filmes de baixo orçamento encabeçados por realizadores jovens e apoiados por produtoras que acreditam nesta nova vaga de cineastas.
O Festival Internacional do Filme de Atenas está habituado a exibir um cartaz pleno de produções gregas, mas este ano houve um recorde com 15 longas-metragens e 78 curtas. O diretor artístico do festival, Orestis Andreadakis, diz: “A nova geração de cineastas gregos é melhor. São mais educados, mais cultos, mais abertos. A crise financeira faz com que os artistas fiquem mais sensíveis aos problemas sociais e retratem a realidade de forma mais fiel. Acredito que esta grande explosão do cinema grego foi cultivada em anos anteriores e agora recolhemos os frutos.”
“Setembro”, de Penny Panayotopoulou, é um filme sobre a solidão. Conta a história de Anna, uma jovem que partilha o apartamento com o cão Manu até ao dia em que o animal morre e ela bate à porta da família vizinha. A película foi exibida em vários festivais internacionais e recolheu boas críticas. A realizadora conta o que está a mudar no cinema grego: “O cinema é muito mais acessível agora para quem queira fazer um filme. Ou seja, é mais fácil fazer um filme hoje em dia. No caso do cinema grego, assistimos a um grande aumento de coproduções internacionais. Os produtores estrangeiros confiam mais nos realizadores gregos e investem mais facilmente nos filmes. Não acredito que este cinema crie raízes para o futuro porque não podemos ter sempre filmes baratos. Agora, o cinema grego está, de certa forma, na moda e funciona sem o apoio essencial do Estado e de fundos privados. Deveríamos ter um plano mais organizado.”
O filme “Luton” levou o realizador Michalis Konstantatos ao Festival de Cinema de San Sebastián, em Espanha. Longas sequências de câmara ao ombro alternadas com planos frenéticos acompanham a evolução de três personagens banais, com, aparentemente, nada em comum. O realizador admite: “Os filmes gregos são feitos por cineastas com grande sinceridade e emoção. Falam de histórias sobre a realidade em geral, não apenas a grega. Ter dinheiro para um realizador grego é uma piada. Sempre foi difícil fazer filmes na Grécia. Agora, é ainda pior. Só continuamos porque temos boas equipas técnicas. Toda esta gente reúne esforços, entreajuda-se, muitas vezes sem dinheiro. Mas estes esforços não duram para sempre.”
“Miss Violence” valeu ao realizador Aléxandros Avranás o Leão de Prata do último Festival de Veneza e a Themis Panou a distinção de melhor ator. Economia de meios e uma crescente tensão narrativa alimentam o filme que contou com o apoio de uma produtora de peso, a grega Faliro House Productions. Lelia Andronikou, da produtora, revela: “Escolhemos cineastas que têm uma visão pessoal. Eles serão a vanguarda da indústria cinematográfica grega. Os filmes são muito premiados no estrangeiro porque transmitem uma realidade que não diz respeito apenas à Grécia mas que é geral.
O plano de resgate do cinema grego está em marcha com a nova vaga de realizadores independentes e sem muito dinheiro, como constata o correspondente da euronews em Atenas, Yorgos Mitropoulos: “Desde “Dogtooth” de Yorgos Lanthimos em 2009 até ao “Miss Violence” deste ano de Alexandros Avranas, os filmes gregos conquistaram mais de 30 prémios em festivais de cinema. As películas falam de relações humanas e dos seus problemas, da crise social e financeira. É óbvio que o cinema grego está a florescer apesar dos tempos difíceis que atravessa o país.”